Duzz tem uma trajetória longa e hoje vamos falar um pouquinho dela aqui
No interior de SP, no ano de 1995, Eduardo da Silva, ou Duzz, nasce em uma cidadezinha chamada Avaré. Hoje, a população da cidade tem em torno de 90.000 habitantes. E entre quase 100 mil pessoas, uma nasceu para se destacar e iluminar a sua geração com letras quentes mesmo em tempos tão frios.
Sem muita enrolação, o menino Duzz começou a colocar a cara na internet nos tempos em que os gamers já exploravam o YouTube. De vez em quando ele menciona que algumas pessoas o seguem desde a época do Point Blank.
Não há como afirmar, mas o vulgo do artista seria supostamente uma fusão do seu nick de gamer “DS” com um artista que é referência para o seu trabalho, o rapper norte-americano Russ. Mas esta não é a única influência de Duzz, afinal, nem é preciso fazer muito esforço para encontrar os traços do rock em sua arte.
Sobre os primeiros trabalhos da carreira do artista, hoje é difícil ser preciso, pois alguns projetos foram deletados do canal. Mas há indícios de que ele começou seus lançamentos no YouTube em 2013. Segundo o Universo Estranho, ‘O X da questão’ seria o seu EP de entrada.
O corre do Duzz, 2All e Uclã
Em 2015, Duzz e seu amigo de internet Scoppey lançaram os primeiros trabalhos da 2All – recentemente eles até tentaram retomar o projeto, mas a vibe não era mais a mesma. Entre as faixas de destaque, podemos citar “Fogo“, single que eles produziram no Rap Box com o Léo Casa 1, e teve colaboração do Dnasty.
Vale destacar que este é um trabalho de 2018, de modo que Duzz decidiu sair de Avaré e se mudar para a capital de São Paulo em 2017. Neste mesmo ano, ele viu sua voz ser ouvida por milhares de pessoas em uma semana, e aqui estamos falando do lançamento de “Condor“. O single foi outra colaboração com Léo Casa 1, e deixou bem claro que alguém tinha algo verdadeiro para falar.
2017 e 2018 são um dos anos mais movimentados do rap na nova escola, afinal, tem as primeiras portas para o trap sendo abertas, principalmente por grupos como Costa Gold, e claro, Recayd Mob, entre outros artistas ousados. Então, vivemos em um momento de transição entre Froid gordo e Froid magro, por exemplo.
Esta era uma hora importante para colocar a sua voz onde todos estavam prestando atenção. São Paulo era exatamente este lugar, e Duzz sabia disso.
Em 2018, deixando evidente a sua referência ao rock, o artista estourou “Kurt Cobain“. Depois dessa primeira bomba, o rapper assina o seu segundo trabalho com a UCLÃ e presenteia o mundo com o álbum ‘Auto-Retrato‘. Desse projeto, inúmeras faixas são verdadeiramente profundas e lindas, mas “Ladrão de Lágrimas” foi um verdadeiro destaque.
Podemos dizer que 2018 foi um longo ano, se algum dia alguém escrever a história do trap, certamente este será um dos maiores capítulos. Mas depois de ‘Auto-Retrato’ vamos notar a primeira grande metamorfose de Duzz. Isso porque nem mencionamos que os seus primeiros trabalhos (lá em 2013) foram o puro suco do boom bap.
Depois que Duzz entrou em contato com a UCLÃ
Seja pelo acesso ou experiência de outros artistas de nível elevado (incluindo o China), depois de seu primeiro álbum vemos outro Duzz. Uma dessas incríveis versões é a que aparece no single “Cadente“, que apesar de trazer a essência rockstar do artista, mostra uma segurança maior na voz, na mensagem, flow e postura.
Na UCLÃ, o primeiro trabalho no qual apareceu foi o projeto “Prefácio #9“, mas não vamos focar aqui nos trabalhos que ele fez com o selo. Neste período, trabalhos icônicos surgiram, alguns deles são: “Eu Odeio Cypher” que traz a participação de Derek, “Oscar Freire” junto com Kant, e na verdade é até difícil mapear tudo.
Nesse momento, tudo o que a UCLÃ lançava virava muito! Algumas faixas de grande destaque são “Meus manos” e “Boas Vindas”, e Duzz não aparece em ambas.
Contudo, o artista sempre manteve um corre muito bem equilibrado entre os seus projetos solos, e seus trabalhos com a produtora. No canal da UCLÃ, Duzz chamou muita atenção ao lançar o seu EP Acústico, o projeto reúne grandes faixas de projetos anteriores. Entre elas estão “Kurt Cobain”, “Bojack” (faixa originalmente feita com Dj. Caique), “Ladrão de Lágrimas” e “Kit Kat” com Kamaitachi.
De 2019 em diante a metamorfose não parou
Em 2019 Duzz lançou “João de Barro”, e este parece o começo do fim de uma nova era, ela se encerraria com seu projeto seguinte ‘Entre o Céu e o Esgoto’. A mixtape ainda mostra um Eduardo com o pé forte no rock, se descobrindo, e fazendo coisas novas em cada faixa. Contudo, ninguém comprou muito a ideia do álbum, embora pérolas como “Deus Abutre” estivessem ali pelo meio.
Mas então, agora é hora de dizer tchau para esse Duzz, uma dessas faixas traz o artista intimista, aquele que você vai ouvir hoje em “Melhor Versão”, por exemplo, se trouxermos para tempos mais atuais. E em cima do beat do Ecologyk, e com a produção mais avançada ainda, “Roleta Russa” é um dos trabalhos mais sinceros (não que os outros não sejam), mas dá para sentir o sentimento dele passando por cada linha… é diferente.
Não era um dos momentos fáceis da vida do artista, além do mais, estava esperando o filho, dando tudo ou nada, e começando a provar o gosto do que ele queria viver. Esse é um Duzz que não dá para se ouvir todo dia, ele exige todo um contexto único. Depois disso, ele soltou tudo em “Gangorra“, produção do Baptista. Essa versão do rapper é muito rara, e claramente é uma das melhores faixas para encerrar uma era.
Agora a coisa fica séria e não tem como falar que não ouviu Duzz
Chegamos em 2019, e depois de uma cota fazendo trap e evoluindo neste quesito ao lado de artistas gigantes como SOS e PEU, vemos um Duzz que sabe o que quer, os riscos no rosto já estão mais evidentes, e ele é mais assertivo em tudo que põe a voz. Então, nesse ano temos dois trabalhos que furam a bolha e levam o nome do artista para outro patamar.
O primeiro desses trabalhos é “Sorry Mom”, o feat com Raffa Moreira, e uma aposta ousada, pois, era um momento em que boa parte dos fãs de rap estava na onda do “Raffa pare”. Então, associar seu nome ao do artista envolvido com a polêmica foi um risco que deu muito certo, afinal, a faixa trouxe uma imagem positiva para ambos os rappers.
E o outro feat que não pode deixar de ser mencionado é o com VK Mac, “Lágrimas em Poças”. Outra vez vemos a essência do Duzz, um pouco daquele de Gangorra. Contudo, ele vem com mais calma, controle, e sabe muito bem o que está fazendo com sua voz. Isso fica visível em suas dobras, embora a voz principal também apresente um domínio claro da situação.
A letra por sua vez, deu espaço para o VK Mac surpreender a todos que não sabiam o que esperar desse artista. O resultado… a track foi um verdadeiro sucesso. Surreal, é uma mistura de sentimentos tão intensos, que é realmente surpreendente, e esta é uma das características do Duzz, sons tocantes mesmo quando você bate cabeça.
O céu é o limite: quem é Duzz?
Em 2020, uma polêmica deu inspiração para uma das músicas mais marcantes do rapper, “Patrícia”. Não tem muito o que comentar sobre esta faixa, foi apenas um tapa na cara das patrícias (e “não tem nada a ver com ser homem ou mulher”).
Este também foi o ano de ‘Aquecendo a Nave’, e aqui nós temos um Duzz incomparável. A qualidade, a produção por trás, as linhas de quem já viveu bastante coisa nesse meio e sabe que é possível, pois fez ser. “Silêncio, Turbulência” entre as outras faixas do EP mostram o Eduardo. Mas em outro momento da sua vida, um em que as coisas estão melhores, mas não o suficiente para apagar todas as dores do caminho até chegar no “banheiro bonitão”.
Se você é fã, sabe que deixamos algumas coisas grandes pelo caminho, mas… é muita história para apenas um artigo. Então, vamos para 2021 e agora temos o trapstar, Duzz traz um single da trilogia de sua colaboração com DaLua e Froid, a faixa “Veneza”. Quem não ouviu essa ainda, não deveria nem estar lendo isso aqui, vá ouvir.
Além do Satélite: Missão Renova
Faz muito sentido um álbum tão grande (composto por 31 faixas), que reúne trabalhos de 3 anos de carreira do artista. E o seu tamanho reflete ao rapper, afinal, as inúmeras versões de Duzz, todas estas que ‘ficaram para trás’, renascem de diversas maneiras. Seja em dobras, a pegada das letras, o sentimento em cada voz, entre as outras versões que ele mostra, principalmente em trabalhos com a UCLÃ.
O álbum por si só, exige um artigo para comentar a quantidade de diamantes que tem nesse trabalho. Contudo, este projeto mostra a síntese de anos de corre, anos de muita fé, e o resultado de frutos colhidos no meio do caminho. Desse modo, o Rap Forte deseja a Eduardo “Duzz” da Silva, parabéns em mais um ano de vida.