Amy Winehouse e sua paixão pelo Rap

O Rap e a cantora Amy Winehouse tem juntos uma longa e respeitosa história, uma paixão mútua que vem desde quando era criança.

A jovem cantora Amy Winehouse que faleceu aos 27 anos em 2011 certamente deixou muita saudade por aqui. Diretamente da terra da Rainha a coroada ‘Nova Rainha do Soul‘ cantou e encantou com sua voz única, marcando sentimentos de forma singular. No entanto sua morte precoce abalou a estrutura do que a jovem artista poderia ainda se tornar. Hoje (23/7) o mundo completa 10 anos sem a Rainha mas sua voz ainda ecoa fortemente por ai.

Seu legado continua forte e imponente, assim como a voz inesquecível da cantora londrina. Além disso várias homenagens acontecem ao redor do mundo ano após ano para manter viva a obra de Amy Winehouse. Uma dessas homenagens é a cinebiografia Amy de 2015 com direção de Asif Kapadia que fala sobre a vida e morte da cantora. No entanto o filme tem partes interessantes que mostram a paixão de Amy por um gênero além do Soul e Jazz, estamos falando do Rap.

Amy Winehouse
Amy Winehouse nas ruas de Camden (via The Guardian) / Amy fotografada por Terry Richardson.

Esse é certamente um lado da história de Amy pouco explorado, a sua carreira no Rap, sim ela teve uma carreira. A jovem cantora não começa sua jornada na música com suas incríveis canções de sucesso como ‘Back to Back’ ou ‘Tears Dry On Their Own’. Acima de tudo seu início se da com seu grupo de Rap Sweet ‘N’ Sour com sua amiga Juliette Ashby inspiradas no fabuloso trio Salt-N-Pepa.

Amy e seu grupo de rap Sweet ‘N’ Sour

O grupo Salt-N-Pepa com toda sua postura ousada foi certamente um marco na vida de Amy Winehouse, era oque a artista queria se tornar. Uma prova da influência do grupo foi quando as Sweet ‘N’ Sour gravaram suas primeiras três músicas (as 3 primeiras de Amy) e lá estão as diversas homenagens ao Salt-N-Pepa.

“Eu gostava de Hip-Hop progressivo, como Mos Def, e coisas conscientes como Nas. Sempre tem um artista que faz a gente entender o que significa ser artista. Eu estava ligada em Kylie Minogue e Madonna, aí descobri Salt-N-Pepa e percebi que eram mulheres de verdade fazendo música.”

Relato de Amy Winehouse no livro “Amy Winehouse: Biografia”, de Chas Newkey-Burden.

Música Let’s Talk About Sex do trio Salt-N-Pepa: Salt (Cheryl James), Pepa (Sandra Denton) e DJ Spinderella (Deidra Roper).

As três músicas gravadas pelo grupo de Rap de Amy Winehouse foram Glam Chicks, Spinderella (em homenagem a DJ do grupo Salt-N-Pepa) e a faixa que fala por si só Boys…Who Needs Them. Entretanto infelizmente as gravações são um mistério mesmo Amy tendo em vida falado com orgulho das faixas.

“Meus primeiros modelos foram as Salt-N-Pepa. Eram mulheres de verdade, não tinham medo de falar de homens, conseguiram o que queriam e falavam de garotas de quem não gostavam. Isso foi muito legal.”

Trecho do livro “Amy Winehouse: Biografia”, de Chas Newkey-Burden.

Acima de tudo a música underground e a diversão (embora Amy levasse o grupo bem à sério) eram as matrizes do Sweet ‘N’ Sour. O grupo que foi dos 10 aos 14 anos de Amy (aproximadamente) certamente se desfez com o tempo e a cantora seguiu sua carreira rumo a conquistar o mundo com seu Soul e Jazz memoráveis.

Amy e as En Vogue

Certamente um dos grupos que também foi influência de Amy Winehouse em sua carreira e que mostram sua paixão pelo Rap são as En Vogue. O grupo vocal feminino fundado em 1989 tinha sob seu principal repertório a sonoridade do R&B e Hip-Hop ecoando pelos charmosos grooves dos anos 90. As batidas clássicas de Rap das En Vogue movimentaram os primeiros sentidos sonoros de Amy.

Música Hip Hop Lover das En Vogue (Terry Ellis, Dawn Robinson, Cindy Herron e Maxine Jones) ft. Wayne Jackson (1992).

Portanto, só até aqui já é possível compreender muito da importância que o Rap teve para a vida da jovem artista. Além disso é muito interessante perceber que suas primeiras influências dentro do Hip Hop são todas mulheres muito bem articuladas. En Vogue e Salt-N-Pepa, 7 mulheres ousadas que não tinham medo de falar oque pensavam, em conclusão: formaram parte da personalidade de Amy.

“Havia jazz, mas o hip-hop também circulava dentro de mim. Quando tinha nove ou dez anos, eu e minhas amigas adorávamos ‘En Vogue’”

Trecho do livro “Amy Winehouse: Biografia”.

Jay-Z e Amy

A cantora deu continuidade em sua carreira e logo se tornou um sucesso por todo o conjunto de sua obra, inclusive as polêmicas. Certamente a luta da cantora contra a depressão, ansiedade e a anorexia alcoólica era a manchete preferida dos tablóides de notícias. No entanto a história hoje possivelmente seria outra se ao invés de explorarem sua dor tivessem em conjunto lhe estendido a mão, como fez Jay-Z.

Jay-Z e Amy tem uma única música juntos, é um remix póstumo da aclamada Rehab em que a cantora recusa se reabilitar para tratar as doenças.

Jay-Z só conseguiu ter um encontro em que pode conversar com Amy durante sua carreira. O rapper relatou que encontrou a cantora na saia de um show em Nova York e que percebeu ela um pouco abalada, então disse: “Eu olhei pra ela e fiquei tipo, ‘Fique com a gente‘. A primeira vez que saímos juntos eu disse à ela ‘Fique com a gente‘”.

“Ela estava nos avisando, as letras dela diziam tudo. Ela dizia que não queria ir para a reabilitação. Como assim? Ela precisava ir”

Revelou Hov sobre Amy em conversa com Rap Radar.

Amy Winehouse Freestyle (Melhor que Kanye)

Certamente a cantora coroada como ‘Nova Rainha do Soul’ e ‘Diva do Jazz’ não mostraria só um talento no mundo do Rap. Além de fazer Rap propriamente dito e de ter diversas inspirações no cenários a cantora londrina também mandava um Freestyle. No vídeo de 27/09/09 intitulado “Amy Winehouse supera Kanye West por Zalon” (traduzido) Amy aparece ao lado de Zalon (um membro de sua banda de apoio) se divertindo num verso livre.

Junto de dois outros músicos chamados Ade e Robin a artista se diverte com a sessão alegre envolta pelo Freestyle. Além disso falando em Kanye West (prestes a lançar seu álbum Donda), o rapper fez diversos tributos a cantora como apresentações de Rehab e até regravações não lançadas. No entanto a cantora em vida já conseguiu atazanar Kanye embora o rapper não tenha ficado chateado.

Durante um show no Festival de Glastonbury em 2008 a artista se referiu a Jay-Z e Kanye (que se apresentariam no festival) da seguinte forma: “Vamos ouvir Jay-Z . O homem tem que vir aqui e tocar as músicas que você nem sabe que lembra. Imagine se fosse uma boc*ta como Kanye West . ‘Boc*tas tipo Kanye ‘ esse deve ser o título de seu próximo álbum.”

Quando perguntado sobre o assunto Kanye achou engraçado e posteriormente disse em seu blog pessoal na época:

“Isso só em… Amy Winehouse me odeia !!! Agora eu realmente consegui !!!” LOL!!!”

Vinho de Cereja com Nas

Amy Winehouse e o rapper Nas tem uma música juntos chamada Cherry Wine. A música está presente no álbum lançado em 2012 ‘Life Is Good‘ é a última a lançar vocais póstumos de Amy.

Certamente o rapper Nas é uma das grandes influências da cantora londrina como dito alguns parágrafos acima. O reconhecimento pelo trabalho do rapper é tão grande que a cantora aparentemente escreveu uma música para o Sr. Nasir Jones. Acima de tudo a música ‘Me & Mr. Jones‘ é uma aparente declaração ao rapper de Nova York, se era namoro ou amizade nunca saberemos.

A cantora diz na música: “Que tipo de merda você é? / Do lado de Sammy, você é meu melhor judeu negro / Mas posso jurar que estávamos acabados (estávamos acabados) / Ainda quero me perguntar sobre as coisas que você faz / Sr. Destiny 9 e 14 / Ninguém se interpõe entre mim e meu homem / Porque sou eu e o Sr. Jones (eu e o Sr. Jones).”

Nas e Amy Winehouse
Nas e Amy Winehouse (foto por: XPOSUREPHOTOS).

No entanto embora o casal tenha sido visto junto algumas vezes, um possível relacionamento não teve tempo de aflorar e oque resta é admiração. Antes da morte de Amy o rapper tinha uma festa conjunta marcada com a cantora, afinal os dois fazem aniversário em 14 de setembro, mas a morte precoce de Amy arruinou os planos.

O amor é um jogo de azar, Mos Def

Certamente como dito pela própria Amy anteriormente ela gostava e muito de Mos Def e seu Hip-Hop progressivo. O jovem rapper do Brooklyn que já esteve em solo brasileiro algumas vezes cativou Amy Winehouse de uma forma diferente. O reconhecimento pelo trabalho de Dante Terrell Smith (Mos Def) era tanto que a artista convidou o rapper para performar ‘Love is a Losing Game‘ no MTV 45th at Night (2007).

Mos Def em entrevista a Altidude Films em 2015 falou sobre o Legado de Amy Winehouse. O rapper insiste que devemos olhar para o talento da cantora e todas as coisas boas que ela fazia com sua música. Para Mos Def a Amy certamente fez mais com esse talento do que apenas usar drogas, e finaliza:

“Ela era um ser humano incrível com um talento maravilhoso e incrível […] Devíamos comemorar isso em vez de olhar para todas as suas manchas.”

Por Fim

Depois dessa longa trajetória do Rap na vida de Amy Winehouse é interessante entender como o Rap foi apaixonante para ela. É realmente uma história de amor do Ritimo & Poesia com a Diva do Soul & Jazz, uma jornada que poucos rapper tem. Acima de tudo a admiração e o repeito por um gênero que mudou mentes. Admiração e carinho pela cantora que com sua passagem breve pela Terra encantou e se tornou amiga de meio mundo através de sua voz forte e seu coração sofrido.

Ela nos deu oque ela não teve, afinal é como nossa amiga Amy Winehouse diz em Rehab:

“Eu não quero beber nunca mais, eu só preciso de um amigo”