A importância de ouvir artistas mulheres

por rapvibe192,

UMA CONVERSA COM A POETISA MANOELA OLIVEIRA:

No Rap é muito comum artistas mulheres terem menos visibilidade que artistas homens, esse é um pouco da conversa que tivemos com a poeta Manoela Oliveira, 17 anos de São Paulo. Foi um papo bem bacana sobre a poesia da Manoela e da importância de artistas como a Ebony, Tasha & Tracie, Afrolai, Mary Jane, Budah, Ashira, laurinha Sette e outras. A ideia foi ter uma conversa sobre como as artistas mulheres tem menos visibilidade, e de qual modo podemos bater de frente com um machismo enraizado.

 

Porque você começou a fazer poesia Manoela?

Manoela – A minha família é muito ligada a esse negócio de musica, meu pai já foi DJ, o meu irmão também compõe musica e desde os meus 12 anos eu comecei a fazer poesia porque, sei lá, tava na época de adolescência, aquele ‘lenga lenga’ todo, ai comecei a fazer poesia e fui progredindo nisso. Eu faço poesias porque eu gosto e é uma coisa muito natural pra mim, começou a sair de forma muito natural, sem ser forçada sabe, acabei gostando e continuei, não empatei essa ideia minha e vamos ver onde é que isso vai sabe, eu gosto que minhas poesias mexam com as pessoas e esse é meu objetivo, fazer com que as pessoas se identifiquem, vejo como arte, super sou orgulhosa disso, começou como hobbie e quero sim levar isso pra minha vida

 

E a poesia pra você, como é?

Manoela – Eu sempre fui uma menina muito quieta tanto pra falar algumas coisas quanto pra demonstrar muito o que eu sinto sabe, sempre fui muito quieta e muito privada dessas coisas assim, e a poesia quando começou na minha vida foi algo que eu coloquei todos meus sentimentos nela, tudo que eu falava eu colocava e eu vi que tava dando certo, tava ficando uma parada boa e até hoje to assim. É mais pelo fato de eu não ser uma pessoa muito carinhosa (risos), mas é pra mostrar meus sentimentos de uma forma poética, eu gosto de demonstrar o meu carinho através das minhas poesias, gosto de demonstrar de forma poética e sempre foi assim, deu não demonstrar meu carinho assim pras pessoas e com a poesia eu conseguia fazer isso, mesmo não mostrando pras pessoas a poesia eu conseguia colocar meu sentimento no papel.

Pra mim poesia é sentimento então… Essa é a forma mais bonita de se demonstrar sabe… Eu amo!

 

O fato do sei pai ter sido DJ e seu irmão compor pode ter incentivado?

Manoela – Meu pai na época dele foi DJ e eu cresci ouvindo rap e essas coisas assim, meu irmão ele compõe mas é pro lado do funk, é uma coisa natural pra gente… meu irmão eu não sei ao certo a idade que ele começou a escrever mas acho que meu pai teve muita influência nisso também, assim como eu, só que até hoje eu ouço música pra escrever e isso vai me dando inspiração, é uma coisa muito louca mas é uma coisa natural que ai você vai achando uns pontinhos pra ligar e fica daora (risos). As músicas elas me dão uma ajuda pra escrever, mas assim, todas as minhas inspirações mesmo… é da minha vida mesmo, as poesias e tudo mais, já até escrevi duas músicas (risos) mas como sou ruim pra cantar só ficou no papel.

 

Você escuta bastante música e produz muita poesia, você sente que consomem menos o trabalho de artistas mulheres?

Manoela – Com certeza, a visibilidade das mulheres no rap, na musica, é bem menor do que a dos homens, eu poderia ficar o dia inteiro falando sobre mulheres no rap e fazer uma lista de varias minas que tem um trampo foda mas não é reconhecido como deveria sabe, um cara que o trampo nem é tão bom as vezes já tem um reconhecimento, eu acho isso muito errado né, porque isso as vezes até desmotiva a pessoa, mas com certeza elas continuaram graças a Deus. O reconhecimento das mulheres é muito baixo ainda, com certeza deveria haver mais reconhecimento, e tipo assim cê pode colocar na mesa, oque vai fazer sucesso?! Uma mina falando sobre questões de gênero ou um cara falando sobre a bunda da menina? Com certeza o cara ele faz mais sucesso, e é uma coisa muito errada porque as questões de gênero deveriam vim primeiro e não a sexualização da mulher ta ligado.

Eu vejo pelo meu instagram mesmo, varias minas pretas que tem um trampo foda, a musica é boa, a letra mano… é muito boa e não tem tanto reconhecimento quanto o cara que ta lá sexualizando, mostrando a bunda da menina e falando que quer fazer isso ou aquilo com ela ta ligado… não to desmerecendo o trampo do cara mas eu acho muito errado.

 

E como isso respalda em você diretamente, quanto poeta e mulher?

Manoela – Poesia é um bagulho difícil eu acho, pra entrar na cabeça de algumas pessoas porque mano, tem gente que acha ler chato pra caralho, eu não gosto muito de ler mas eu leio as vezes (risos), mas tipo assim, é só você ver questões… tipo meu perfil, um perfil de poesia, ele não tem tanta visibilidade quanto um perfil de fetiche, um colega meu criou esses dias um perfil de fetiche e o perfil já tava com mil seguidores e tipo assim, meu perfil de poesia tem um retorno bom até mas…

Isso é uma coisa que não me abala sabe, continuo lá com meu trampo suave, se não deu certo uma hora vai dar ta ligado… O meu perfil de poesia é mais pra tocar as pessoas então eu já fico feliz com quem leu e ta ótimo.

 

Doideira essa escolha de consumo das pessoas, da preferência em consumir certos conteúdos, você vê isso como um reflexo da sociedade como um todo?

Manoela – Muita coisa influencia as pessoas né, e assim, tem como influenciar pro bem e pro mal ta ligado, com certeza isso é um reflexo da nossa sociedade, uma questão cultural tipo a questão do machismo estrutural… é muito louco esse negócio né, você vê que as pessoas tão mais ligadas a desejos carnais do que pensar em outras coisas, uma coisa que é produtiva pra si as pessoas não estão tão ligadas a isso.

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Você percebe esse machismo muito estruturado, não só em relação a sua arte, mas na sua vida diária?

Manoela – Desde sempre, até porque eu sou bem militante eu diria (risos), tantas vezes que sei lá, amigos ficam dando em cima de você e é uma coisa desconfortável sabe, você no busão e os caras ficam mexendo, tipo, é uma coisa extremamente desconfortável. Na família mesmo tem pensamentos que você olha e da nojo de você ouvir esse tipo de coisa ainda mais vindo da sua família, é uma coisa muito louca né,

não é uma coisa que vai acabar do dia pro outro mas a gente tem que continuar lutando pra isso acabar.

Cê vê em todos lugares tem essa desigualdade, esse machismo sabe, essa objetificação da mulher e mano… é horrível, isso abala o emocional de qualquer pessoa, é muito foda, porque você tem que lidar com isso todo dia, igual quando eu posto poesia, eu posto fotos minhas, as vezes desenhos (não meus, desenhos aleatórios) e quando eu postei uma foto minha de calcinha e sutiã os cara ficou mexendo e mano… meu perfil de poesia é totalmente voltado pra arte, eu vejo meu corpo como arte mas não gosto dessa objetificação dele.

 

Você disse que é importante continuar lutando, nas respostas anteriores falou em não se abalar com a baixa visibilidade e deu graças a Deus às artistas mulheres independentes não terem desistido… Você acha que uma das maneiras (de nós quanto pessoas, artistas, mídia, público) de bater de frente com esse machismo enraizado é dando voz e consumindo essas artistas mulheres?

Manoela – Com certeza, esse é um caminho muito bom pra se começar ter essas transformações sabe, até porque as mulheres tem pouca visibilidades como já falamos, e se todo mundo parasse pelo menos uma vez pra ouvir algumas mulheres que vejo no Instagram, de consumir o trabalho delas, com certeza a visão das pessoas ficaria diferente, e até pra entender essa coisa do “o homem no rap, a mulher no rap: as diferenças”… não só no rap mas na arte em si, se as pessoas entendessem um pouquinho só já ia fazer muita diferença. Essas artistas mulheres tem muito pra falar, e não ter o reconhecimento que os caras tem empata isso ta ligado, então é uma coisa que tem que ser revista, as pessoas tem que ver o que essas mulheres tem pra falar, qual o trampo delas ta ligado, pode ser cantora, fotógrafa, mano… essa mulher ela vai ter algo pra falar e é tão bom as pessoas ouvirem ela. A gente gosta de ser ouvida ta ligado, é gratificante quando você é ouvida sabe, a pessoa sabe dos seus ideais, seus objetivos, isso é gratificante… principalmente uma mulher que escreve, canta, essas coisas assim.

 

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E o que você curte bastante de escutar e ter como referencia?

Manoela – Tenho muita referencia em 2Pac, esses momentos eu tenho escutado muito Gilsons, é um grupo se não me engano do Gilberto Gil, da família dele sabe, muito bom… pra escrever eu curto muito Coruja e o Emicida, algumas meninas, a Tasha & Tracie elas são muito boas, Laurinha Sette vish, maravilhosa. Tipo, pra inspiração eu gosto de música calma, musicas sobre amor sei lá, o Kayuá, músicas assim.

Pra escrever são mais musicas lentas, tipo Budah, Ashira, o Baco… eu gosto dessas coisinhas assim pra escrever sabe, tem também pra refletir, eu gosto muito de rap e tudo mais… ultimamente tenho ouvido musica antiga (risos) eu amo musica antiga, mas sou muito eclética com meus gostos musicais, só não gosto de sertanejo e forró, mas de resto curto tudo. […] eu curto muito B.B. King, minha mãe fala que quando o Michael Jackson morreu eu chorei tanto, e eu era pequenininha (risos), mas eu gosto ainda.

 

Tem uma alguns nomes de artistas incríveis que merecem mais reconhecimento, pra além de você mesmo?

Manoela – Tem várias, eu gosto muito delas, o trampo delas é muito foda ta ligado e você fica olhando assim… Deveria ter mais visibilidade o trampo delas porque é muito bem feito

Laurinha Sette / Afrolai / Ebony / Tasha & Tracie / Afront Mob / Budah / Ashira / Mary Jane.

 

Qual recado você quer deixar pra quem vai ler essa matéria?

Manoela – Acho que eu só gostaria de falar e pedir que qualquer artistas independentes que as pessoas conhecerem, principalmente mulheres independentes, artistas independentes, que dessem uma força e dessem um apoio porque é muito complicado você subir, tipo assim, na carreira… principalmente sendo mulher, no rap até, porque é um lugar majoritariamente de homens e digamos que eles não falam muito bem sobre as mulheres (risos), então dá uma força sabe, se puder, pra artistas independentes, pra mulheres que são artistas porque não é fácil a gente estar aonde a gente quer estar,

a gente ta tentando ganhar o nosso, é isso.