BH virou Compton?
Não é de hoje que o RAP mineiro esta em alta no Brasil, com artistas diferenciados a capital Belo Horizonte faz jus ao “apelido” dado por FBC de Compton brasileira (guardadas as devidas proporções) alusão ao gueto dos Estados Unidos celeiro do RAP.
A cidade americana, é bastante representativa na cultura do hip-hop,
sendo que a fama começou em meados dos anos 80, graças ao grupo de rap N.W.A, que referenciava a cidade em várias de suas músicas, uma das mais famosas foi Straigh Outta Compton, que posteriormente ultrapassou as barreiras da música e fez a biografia do grupo ir as telas do cinema.
Em Compton nasceram vários rappers famosos como: Dr. Dre, The Game, Eazy-E, Ice Cube, Kendrick Lamar, Suge Knigth, MC Ren, DJ Yella, Arabian Prince e muitos outros.
Voltando aqui para a nossa realidade, é impossível falar do Rap Nacional atualmente sem lembrar do mineiro Djonga, que ano após ano lança álbuns icônicos, como o mais recente “Histórias da Minha Área” que encerrou a trilogia composta por seus três primeiros discos: “Heresia”, “O Menino que Queria Ser Deus” e “LADRÃO”.
Histórias da Minha Área em apenas 1 semana, alcançou números impressionantes, batendo a casa dos 25 milhões streams nas plataformas digitais.
https://twitter.com/djongadorge/status/1241138489581875202
Além disso, Djonga tem participado dos maiores festivais nacionais e já ocupa o hall da fama do RAP nacional, dividindo o estrelato e palcos com ídolos como Mano Brown, integrante do lendário grupo Racionais MC’s.
Froid, uma das principais figuras da nova geração do hip-hop nacional também nasceu em Belo Horizonte, o artista que hoje reside em Brasília se consagrou com o hit “Pseudosocial”, lançado no inicio de 2016, no mesmo ano teve participação na faixa “Atemporal” do 3030. O rapper que também produz suas próprias músicas tem em seu currículo os álbuns: “Teoria do Ciclo da Água”, “O Pior Disco do Ano”, “Sol”, e a Mixtape: “O Homem Não para Nunca, Vol. 1.” Além de colecionar participações em projetos relevantes a nível nacional como “Favela Vive” e “Poetas no Topo.”
Nós da equipe RAP FORTE conversamos com Froid sobre qual seria o diferencial da cena de BH, como citado acima o rapper não reside mais na capital mineira, porém tem propriedade para falar sobre a periferia onde cresceu.
"Sotaque é o ponto principal, já matei essa charada antes. O sotaque belo-horizontino não irrita, por mais que o Rio de Janeiro e São Paulo exportam músicas para o país todo, o lance do sotaque deles é muito característico. O sotaque de BH assim como de Brasília tem uma característica mais amistosa, pacífica e menos agressiva."
Perguntado sobre o movimento underground na capital, Froid respondeu:
"O RAP de BH sempre existiu firme, foi o lugar onde surgiu a maior batalha de RAP do Mundo, o Duelo de MCs, a cidade de Belo Horizonte em si é muito underground, tem muito a ver com o movimento urbano alternativo. A periferia da cidade é gigante, não tão bem armada quanto no Rio de Janeiro, porém são vizinhos, 4 horas de carro você está no Rio de Janeiro."
Durante a nossa conversa, Froid remeteu a fatos da sua infância:
"Eu morava no Bairro União, União é um bairro que morre gente, mas tem asfalto, eu vi muita gente morrer na minha frente."
"Belo Horizonte é uma metrópole, é como se fosse Rio ou São Paulo, então precisa de periféricos, é igual no Brasil todo, a mãe sai de manhã pra trampar e volta só a noite. O que o filho sem pai faz no bairro a tarde é problema do bairro."
Essa vivência que não é exclusividade de Belo Horizonte, mas também da maioria das grandes cidades brasileiras, assimila as ruas de Compton, por ser um RAP real, onde desde cedo as crianças aprendem a superar as dificuldades da dura realidade que muitos de nós vivemos. A música em si, se torna uma válvula de escape, do dilema entre a arma e o microfone.
Froid nos conta que já viveu isso na pele, inclusive perdendo muitos amigos de infância:
"É real, na minha rua só sobrou um amigo, que vem passar todo natal comigo, morreu todo mundo, ou ta preso, todo mundo da minha rua! E as meninas tiveram 4 ou 5 filhos. Eu não estou inventando isso."
"Juntando isso tudo você tem uma química perfeita para cozinhar o melhor RAP do país." concluiu Froid.
As mulheres mineiras também somam a cena local, mostrando toda sua força e versatilidade, nomes como Clara Lima, que já foi citada aqui no portal RAP FORTE, se junta a Iza Sabino, vulgo “Sua Mãe” que vem mostrando sua cara ao Brasil e lançou na última sexta (3 de Abril) o álbum “Best Duo” com o influente FBC.
Com 10 faixas, o projeto tem participações de Djonga, X Sem Peita e Paige.
Iza Sabino é natural de Belo Horizonte e está envolvida no cenário do RAP desde 2014.
“Procuro sempre abordar o empoderamento das mulheres negras e do movimento LGBTQ+, gosto de retratar assuntos sérios de forma dinâmica e é isto que eu procuro trazer para as músicas, sou bem versátil mas procuro mostrar um lado marrento.”
declarou a artista para a equipe RAP Forte.
Fabricio agrega, a vitalidade da jovem Iza Sabia, toda sua experiência de 15 anos inserido na cultura hip-hop. Cria das batalhas de rima, FBC ganhou notoriedade junto ao coletivo DV Tribo que expôs os nomes de Djonga, Clara Lima e Hot & Oreia.
A mixtape “Best Duo” se junta com os dois álbuns de estúdio do rapper, são eles “S.C.A” de 2018 e o mais recente “Padrin” de 2019 que viralizou nas redes sociais no seu lançamento e engajou artistas de fora da cena como Marília Mendonça e o mítico rapper Mano Brown a postarem a data 15/11 em seus perfis.
Confira a declaração exclusiva do Padrin:
Belo Horizonte tem RAP que agrada a todos os estilos.
Hot e Oreia eram integrantes da DV Tribo, composta também por nomes como Clara Lima, Djonga e FBC.
Hot e Oreia são uma dupla de BH irreverente e autêntica que surge com uma levada diferenciada e versos bem humorados, que vai da política a críticas sobre a cena do hip- hop, imprimindo assim um estilo único dentro do rap atual. Os ideais dos artistas ficam evidentes em seu primeiro disco intitulado “Rap de Massagem,” que também dá nome a uma faixa do álbum. Músicas como “Padrões“ com a produção de Coyote Beatz, “Cigarro” e “Estilo” também são ótimas pedidas da dupla mineira.
Recentemente a dupla recebeu a premiação de melhor videoclipe nacional por escolha do público na sétima edição do Music Video Festival no ano de 2019. A produção premiada foi o clipe “Eu vou” com participação de Djonga.
Chris MC que é irmão de Clara Lima participa de batalhas no Viaduto Santa Tereza desde os 16 anos é outro expoente belo-horizontino. Os dois tiveram participação na faixa “Eu Sou o Jogo”, do Sagaz, que inaugurou a carreira de Chris.
O cantor que explora ao máximo sua voz diferenciada rende elogios até de outros públicos nas redes sociais, Chris fez parte do grupo carioca 1Kilo e participou de trabalhos como “Dia de Caça” que o lançou nacionalmente. Chris ganhou destaque também ao agregar seu talento a uma edição do Poesia Acústica, da Pineapple.
No começo de 2019 lançou seu disco “PRIN$” se consagrando na cena local e se juntando a nomes como os de FBC, Djonga e Sidoka que estão sempre participando de feats uns dos outros o que agrega a todos os envolvidos, onde quem mais ganha é o público do RAP que agradece a essência mineira.
“Eu acho que é o momento em que a gente tinha que estar fazendo isso mesmo. É importante a gente estar fazendo isso e estar participando nos discos uns dos outros. Tem participação do Djonga no disco do Fabrício, o Sidoka e o Hot têm participação no disco um do outro, eu tenho som com o Sidoka. É importante andar de mãos dadas, é mais fácil você conseguir levar alguém.” Declarou Chris MC em entrevista para o VICE Brasil por Amanda Cavalcanti.
Sidoka e o TRAP de Minas
Se no RAP de sua forma mais clássica e original, Djonga é considerado “Deus”, no trap nacional, não tem quem não conheça Sidoka. O jovem astro conhecido por sua levada venenosa soltava músicas no SoundCloud, como o próprio artista conta nas suas entrevistas, até que explodiu depois de participar da faixa “UFA”, que integra o álbum “O Menino Que Queria Ser Deus” do Djonga, e desde então não parou mais. Na final da noite da última sexta-feira (3 de abril) a revelação do Trap Nacional roubou a cena mais uma vez e “du nada” como já virou rotina, pixou a madrugada lançando uma mixtape pesada entitulada “Futuruz”.
O mineiro Doka é venerado nas redes sociais pela sua autenticidade. Sidoka que já tem no seu currículo a mixtape “Dokaz”, o projeto de estúdio “Elevate”, o EP “Sommelier” e seus discos “Doka Language” e o aclamado “Merci” arrancou elogios de todos os fãs com o último lançamento.
Confira a mixtape completa no canal oficial do artista.
Vale ressaltar que Djonga, FBC, Clara Lima, e Sidoka estarão presentes no Rap in Cena – O maior Festival de Rap do Sul do Brasil. Veja matéria sobre o evento, clique aqui.
Confira também a nossa matéria exclusiva que foi citada acima sobre A REPRESENTATIVIDADE FEMININA NO RAP.
Não esqueçam família, fé em Deus e álcool em gel…