Com videoclipe gravado no Morro do Horácio em Florianópolis, a cypher faz jus ao nome e impressiona, principalmente pela desenvoltura da rapper mirim Yasmin Limas.
A partir desse artigo surge uma colaboração entre o canal SoulDoRap, de Florianópolis, SC, e o portal Rap Forte, maior veículo de mídia voltado ao rap no sul do Brasil. Para esta primeira publicação resolvemos falar sobre a “Cypher mais pesada do Sul“, idealizado pelo Rapper Nado, esse clipe tem dado o que falar no cenário de hip hop catarinense.
Sem mais delongas vamos direto ao ponto. A “Cypher mais pesada do Sul” é um projeto de alguns MC’s de Santa Catarina que reuniu o Rapper Nado, Paulo, Segmento, Mano Pepsi e a pequena Yasmin Limas. A produção ficou por conta de Cláudio Back.
A rapper mirim Yasmin Limas, de Indaial-SC, roubou a cena quando foi publicado um trecho do som no Instagram do Rap Forte, que conta com quase 30 mil views, nessa parte é citado o nome de Eliane Dias, esposa de Mano Brown, que a partir daí republicou os versos de Yasmin na Cypher e até mesmo a rapper Negra Li reagiu ao post.
Para entender todo o processo criativo desse projeto, logo abaixo nossos leitores vão poder acompanhar alguns trechos da entrevista com o Rapper Nado que foi quem reuniu toda essa rapaziada para um dos trampos mais impactantes dos últimos tempos no rap de Santa Catarina.
Jota/Rap Forte: Como surgiu esse nome “A cypher mais pesada do sul?”
Nado: “Tudo tem um peso na vida. A amizade tem um peso, o amor tem um peso. Teve representatividade, incluindo a artista mais nova que temos no Estado. É pesada pra nós.
Antes desse nome tinha mais dois títulos pra serem escolhidos, porém aconteceu que antes de soltar o videoclipe, sempre que eu ia dar uma volta de carro com as minhas filhas, elas falavam assim: “Pai, toca a Cypher mais pesada do Sul” no som do carro. Essa é justamente a parte que a Yasmin Limas começa a cantar e que fica na mente, fácil de decorar.
Mas também pesa o fato do clipe ser gravado num dos morros mais odiados pelo braço armado do governo do Estado de Santa Catarina, em cima de uma laje que tem história nas ruas e num bairro da parte central de Floripa, tido como área de risco da capital, onde também foi nesse bairro onde nasceu o grupo Negrociação, responsável por ter colocado Santa Catarina no mapa do Rap Nacional. Inclusive ficou essa homenagem no final do Videoclipe. Então, tudo isso tem um peso, um carinho e um respeito.”
Jota/Rap Forte: É interessante ver MC’s de diversas partes do estado, como Indaial e Blumenau. Quem montou esse elenco? E de onde veio a ideia de convidar a Yasmin, uma MC tão jovem e tão promissora na cypher?
Nado: “Primeiro eu conheci o Paulo do Gangsta Rap, quando ele me chamou pra cantar no evento Gangsta Party 3 em Indaial, neste dia, eu vi a Yasmin Limas cantando pela primeira vez, acho que ela tinha 7 anos, quando eu vi ela cantando os meus olhos brilharam. Fiquei no contato com o Paulo e a Yasmin Limas gravou uma música comigo e com mais 11 crianças do Morro do Horácio no som “Conversando com o Papai Noel”.
Depois o Paulo me apresentou o Pepsi e o Segmento de Blumenau, conheci alguns sons deles, fizemos uma amizade mil grau e quando a gente percebeu eles já estavam lá na minha casa, bebendo, rindo, confraternizando e até nossos filhos se conheceram… virou uma família. Após isto decidimos fazer a Cypher. No começo só tinha homens na Cypher e como eu já conhecia o talento da Yasmin Limas, tinha certeza que ela iria dar um brilho especial na música, indiquei ela, todos curtiram a ideia deu certo. Até a própria Eliane Dias postou no feed do Instagram dela uma parte da Yasmin cantando, só disso ter acontecido já deixou a gente feliz por completo, não existem números de seguidores ou visualizações que superem essa emoção.
Foi o primeiro Videoclipe profissional da Yasmin, ela é talentosa demais e merece ser reconhecida no Brasil todo, mesmo tão nova e já tá carregando a Bandeira do Rap Catarinense. Sempre deixei claro para todos da Cypher que o principal foco era a Yasmin. Porque a gente já tem a nossa caminhada de Rap e a Yasmin ainda tem a vida toda pela frente. Ela foi a única a ganhar um cachê por ter participado da produção e merece muito mais, tem que ser tratada como uma grande artista que é o que ela é.“
Nado ainda conta que o projeto demorou aproximadamente 6 meses para ser finalizado. E tudo isso não foi nada fácil, teve até um Dj que iria produzir o som sendo preso. Então foi maior correria para encontrar outra pessoa capacitada, apesar das dificuldades todo mundo ficou aliviado e satisfeito quando encontraram o produtor Cláudio Back, que executou esse trampo com maestria, assim como na parte de imagens com o Tiago de Jesus.
“A gente tem que aprender a se ouvir, procurar conhecer o trabalho do grupo da cidade do lado, valorizar 100% o nosso Estado, mostrar que o Sul é forte também na cena nacional. A Cypher foi um presente para nós mesmos, uma forma de mostrar a união que a gente fez e também um presente para Santa Catarina, por envolver 100% Rappers Catarinenses. Não procuramos ninguém de outro Estado e nenhum tipo de Youtuber para conseguir mais visualizações, foi tudo na raça mesmo, a gente decidiu valorizar SC.” disse o rapper valorizando nossa cena local.
Jota/Rap Forte: É evidente que dentro do videoclipe e no próprio som, está presente a estética do Gangsta Rap, um estilo bem marcante dos anos 90. Como vê o cenário do mesmo nos dias de hoje?
Nado: “Eu cresci ouvindo Rap noventista e anos 2000. Lembro que nas antiga, só o fato da gente falar que fazia Rap, as pessoas já olhavam de cara feia, diziam que era música de bandido e tal. O que posso dizer é que foi um Rap Especial, que trouxe esperança e incentivou até as crianças. Todas as crianças que aparecem no Videoclipe, quiseram aparecer porque viram a Yasmin Limas cantando na gravação das imagens, elas se sentiram representadas por ela.
Da mesma forma que a Yasmin diz que a Eliane Dias ou a Negra Li são referências pra ela, a Yasmin também acabou sendo referência para as crianças do Morro do Horácio e isso é lindo. Se prestar atenção na letra, a Cypher é uma aula de História e Geografia, é uma música de revolta e autoestima, é um som de tristeza e superação, resumindo é um Rap que passa esperança … Talvez fosse essa a palavra que eu escolheria … um Rap Esperançoso.
Sobre esse tipo de Rap nos dias de hoje… eu posso dizer que sinto uma nostalgia do tempo de rebobinar uma fita k7 pela caneta, mas sou feliz por estar vivo e fazer parte desse mundo com a inclusão digital e toda essa tecnologia, então, assim como o mundo tá sempre mudando, é natural que as pessoas mudem e a música também. Tudo é vário, temporário e efêmero.
Nunca somos, sempre estamos. O tempo é enfermeiro. E esse tipo de Rap vai ser sempre o enfermeiro, é o que vai cuidar das feridas desse mundão.” concluiu o rapper.