Conheça Don Hadji e a sua visão da cena do rap no Nordeste.

“Sou aquele músico que trata as palavras com cuidado e se pergunta muito antes de soltá-las, por saber da força e importância que tem cada palavra.”

Com essa declaração de bastante efeito começa a matéria/entrevista do Rap Forte com o rapper baiano Don Hadji, que a partir de agora você vai poder conhecer melhor sobre seu trabalho.

O rapper Don Hadji é cria de Pernambués, um bairro de Salvador, na Bahia. Pernambués é o bairro com maior população negra e um dos mais populosos da capital baiana.

Com 80% da população de pele preta ou parda, a capital da Bahia respira a cultura negra. A cena do Rap/Trap que é um movimento que pertence aos pretos desde a sua origem, tem crescido absurdamente nos últimos anos em Salvador, assim como todo nordeste. A Bahia tem MCs que Hadji considera tão importantes quanto qualquer outro rapper do eixo Rio/São Paulo, só que apenas o talento infelizmente não garante um destaque nacional.

Don Hadji é filho de músico e conversou com a equipe do RAP FORTE como é fazer rap no Nordeste e nos passa uma visão bastante interessante para nós que estamos aqui no Sul, ou seja o outro extremo do Brasil. Essa troca de experiências é muito importante para estarmos fomentando a cultura e o movimento hip-hop em todo o território brasileiro.

Hadji conta para nós como foram os seus primeiros passos no rap:

“Desde os meus 12 anos de idade ouço e rabisco umas rimas onde aos meus 14 anos escrevi uma música (Portal pra um mundo crítico), nunca gravei por falta de recursos na época, mas sempre cantava ao vivo nas escolas, shows na minha quebrada, onde cedinho ganhei um destaque na comunidade e ganhei o apelido de Profeta, pelas potências que trazia nas palavras com veracidade e responsabilidade altíssima para um garoto de apenas 14 anos.”

Ao longo da sua caminhada Hadji foi conhecendo outros MCs na cidade que o ajudaram a ganhar muito profissionalmente, como o Mc Victor Haggar e o MC Daganja que fez questão de mencionar. Para Hadji isso foi uma escola e com ele mesmo fala “trouxe percepções musicais incríveis e garantiram uma responsa com a cultura por serem mcs assim como eu que são extremamente convictos do que fazem e essa experiência o ensinou a ver o Rap da forma mais justa e forte durante anos trabalhado junto como back in vocal.

Em 2017 Don Hadji lançou o seu primeiro trampo solo intitulado “Alter Ego” o que garantiu uma passagem breve e simbólica no programa Profissão Repórter da Rede Globo de televisão devido a importância do conteúdo passado nas rimas e no áudio visual que foi feito por Iury Tailan. Em seguida veio um convite para ingressar no grupo Cerberus que na concepção de Hadji “seria o grupo de Rap que realmente iria fazer lama no cenário musical nacional.”

“Eramos três MCs, três personalidades distintas e fortes, três monstro sagrado do Rap Baiano, três Rappers extremamente incríveis com as palavras, formado por Dark, Dois As & eu Don Hadji, ali surgia o 3D mais amplo do Rap Baiano…”

Em 2019 ocorreu o lançamento do primeiro EP solo de Hadji, o “Reza Lenda”, que contou com participações de nomes importantes do Rap como Dark, Lk o Marroquino, Nocivo Shomom e de um grande ídolo de Hadji, Edcity (Ex-Fantasmão), o qual confessa que realizou um sonho fazendo parte desse projeto pelo fato de ser um trabalho ambicioso, provido de ideias fortes e um balanço groovado.

No seu perfil do Instagram, Don Hadji coleciona fotos com artistas importantes do rap nacional, como por exemplo na publicação abaixo em que aparece ao lado de Xamã e Major RD:

https://www.instagram.com/p/B0ZQYjFAO4r/

Nova etapa da carreira:

Agora em 2020 Don Hadji continua no corre e trabalhando duro. Em breve o rapper vai estar realizando o lançamento do single “Mero in-Mortal” que é uma canção inspirada nas personalidades que fizeram parte de uma geração que tinha somente o intuito de trazer a veracidade da palavra equidade.

“Em Mero in-Mortal busco exemplos como os Índios, Mestre Moa, Elzo, Daniel, Menino Joel e Marielle Franco, que lutavam por uma causa justa: liberdade e justiça. E foram brutalmente assassinados por armas de fogo e armas brancas, que nessa era em que vivemos estará sendo uma grande questão política sobre a liberação das armas e essa track veio justamente pra mostrar que as armas não são a solução por que ela trás mortes e mortes nunca foi solução pra nós pretos da periferia, inclusive da periferia baiana onde temos a polícia que mais mata no Brasil e a mais racista em todo território nacional.”

“Levantei a questão do preto que precisa da instrução pra se reerguer e dos homens que precisam só de edução pra se estabelecer e também a questão atual do nosso país com a desordem formada pelo atual presidente da república.” Concluiu Don Hadji.

Enquanto não sai o aguardado single ‘Mero in-Mortal‘ vocês podem estar acompanhando o trabalho mais recente de Don Hadji que é o vídeo clipe de ‘Epitáfio‘. Um feat com o grupo Arauto que conecta Aracaju e Bahia num rap ácido do mais alto nível. Esse squad pesado é a cara do rap nordestino que merece todo respeito e atenção da cena brasileira.

Assista ‘Epitáfio‘ no Youtube: