Rapper, personalidade importante no mundo da moda (principalmente da favela) e atriz… Essa é Juju Rude, uma das artistas mais versáteis do território nacional.
O cenário nacional do Rap sem sombra de dúvidas possui verdadeiros diamantes trabalhando com excelência pelo Hip Hop. A artista carioca Juju Rude com certeza é um desses destaques com uma carreira recheada de trabalhos importantes. No entanto o Rap não é o único caminho que a artista encontrou para poder se expressar e continuar a sua luta.
Juju Rude certamente é uma das artistas mais versáteis e completas de todo o território nacional. Acima de tudo a madrinha, como também é conhecida, tem uma personalidade única e vem construindo um carreira impecavel. Versatilidade talvez seja a melhor definição pra artista que se apresenta como rapper, como personalidade presente no mundo da moda e atriz em filmes e séries.
Confira a conversa entre o Rap, a moda e a atuação com a madrinha, Juju Rude.
Juju Rude e o Rap
RAPVIBE192: Conta um pouco da sua parceria com o Mauricio DTS e recentemente sua participação no CD dele:
Juju Rude : Ele me conheceu através da internet, conheceu meu trabalho numa época que eu tava em São Paulo até, a partir de então a gente foi se acompanhando e um belo dia mandou uma mensagem me convidando pra abrir o show do lançamento do CD dele anterior numa casa de show em SP. Foi eu, MV Bill e lá tinha a 286 também que é um grupo bastante relíquia, ai foi nosso primeiro contato mesmo.
Lá em São Paulo ele me apresentou uma galera muito bacana, inclusive me levou pra dar um rolé no Capão Redondo que é a área dele na qual eu tive a oportunidade de fazer um show também através dele e tal com a galera lá da loja Negredo que é um pessoal da família Racionais. Nisso ele veio com a proposta da música pra gente fazer esse, mas até então não tinha o lance do CD, era só pra ser um single mesmo, aí nesse período que eu fui fazer o show com ele lá em São Paulo eu acabei ficando em São Paulo e morei lá durante uns meses e aí nessa a gente gravou esse single com produção do DJ Dre que é irmão gêmeo do Lino Krizz que é do Racionais também, aquele cara que canta as partes mais R&B do Racionais então, são músicos incríveis.
Também tive a oportunidade de tá trabalhando com o DJ Dre que é um cara também muito brabo, muito relíquia e lançamos o clipe e foi estouro, foi bem legal. Recentemente ele veio com essa notícia que ia tá lançando o novo CD que ia incluir a nossa música porque teve um resultado bom e tudo mais, a música ficou ótima e aí incluiu e pô pra mim uma honra assim poder fazer parte da história de um cara que é a história, né? que é assim a influência de muitos e ajudou a construir né a cena do Rap hoje em dia principalmente São Paulo e no Brasil inteiro.
“Faz com que eu acredite e continue acreditando na minha caminhada e no conceito né que eu tenho pelo fato de ter o apoio, minha personalidade assim e a minha carreira artística tem o apoio de um cara como ele.”
Confira o videoclipe de “Mulher”, a faixa de Juju Rude e Mauricio DTS.
RAPVIBE192: Um outro trabalho que saiu não tem muito tempo foi a música “Respeita Minha Quebrada” com R30, que inclusive viralizou sua parte no Twitter né?!
Juju Rude : A música com o R30 é a galera né, tanto o tanto o Rafim quanto o BigFlow são caras que eu conheço assim há bastante tempo e teve uma fase assim uma época que eu tava numa gravadora que eu convidei eles pra participar também dessa gravadora e tal, eles acabaram entrando sendo que as coisas não andaram muito assim conforme a gente desejou e a gente resolveu sair da parada mas aí cada um foi seguindo a sua caminhada sempre na amizade.
A gente tinha feito essa música pra nessa outra gravadora que a gente tava e acabou que não fluiu, e cara acabou que aconteceu coincidentemente da letra que eu canto na música com Maurício DTS eu tinha feito pra essa música com o R30 e aí quando o Maurício me chamou eu fiquei nervosa assim eu tava fazendo muito trampo muita coisa lá em São Paulo e cara me bateu aquela ansiedade aquele nervosismo né, da responsabilidade fazer o trabalho com o Maurício e eu não descrevi e lembrei que eu tinha essa letra escrita e aí como eu não sabia muito do futuro dessa música com o R30 eu acabei botando essa letra na com o Maurício DTS que casou assim ficou perfeito né, pra proposta da música e tal.
Recentemente a galera veio né me chamando e tal, falando até sobre a produção do DuBrown que também que é um cara que é uma relíquia aqui do Rio de Janeiro e um cara que faz parte também da minha história no Rap assim, foi o cara um dos primeiros caras que gravou música comigo muitos anos atrás, uma das primeiras pessoas que acreditaram em mim e aí a gente conseguiu fazer essa música e conseguiu gravar o clipe.
RAPVIBE192: Inclusive viralizou sua parte no Twitter né, um Boom Bap viralizando no Twitter, uma surpresa e tanto imagino.
Juju Rude : Foi uma surpresa pra mim assim também do clipe ter dado uma viralizada no Twitter, e né um Boom Bap assim e pô alcançou realmente o que eu gostaria que era falar como uma mulher mesmo gângsta fazendo um Boom Bapzão, tanto o Boom Bap do Maurício quanto o com R30 mostra realmente que o rap não morreu e é um real Rap mais maduro né, o conceito da galera do Rap do R30 é o lance do Rap após os trinta, é trinta anos mesmo então já é esse o conceito de ser algo com fundamento, com uma postura mais séria e tal. Então os dois trabalhos coincidentemente tem tudo a ver e repercutiram assim, muito além da minha expectativa.
E é maneiro né, logo eu assim que prezo muito ainda pela cultura Hip-Hop no geral poder ter essa oportunidade de tá tendo um destaque fazendo Boom Bap é muito maneiro porque eu me considero sou uma rapper, sou o MC pelo fato de ser mestre de cerimônia assim de apresentar eventos, ser apresentadoras, ser locutora também e tal, mas nunca fui MC de batalha, MC Freestyle e já comecei a fazer Rap já tipo escrevendo Rap, gravando e já com uma música fazendo show foi tudo assim muito natural, muito rápido. E aí só pra concluir é isso
“Faço Boom Bap, se o som do momento, o gênero, o subgênero for Trap, for Grime, for Drill, Funk enfim, a gente tá aí pra fazer a música de gueto.”
Confira a faixa com R30 “Respeita Minha Quebrada”:
Entre a Moda e o Rap
RAPVIBE192: Uma das coisas que mais gosto nos seus trabalhos é a atitude pra frente sempre presente, você acha que atitude é algo constante também no modo como você se veste?
Juju Rude : A questão do meu estilo eu já me preocupei bastante em tá seguindo mais os padrões que vem de fora assim mais atuais né, mas quando eu vim com esse trabalho e tal como o Juju Rude eu quis me aproximar ao máximo mesmo assim da realidade das mulheres da favela porque elas real precisam se identificar pra poder ouvir o que eu tenho pra falar, elas tem que se sentir parecidas comigo ou eu parecidas com elas pra começar a ter o primeiro ponto de identificação e interação mesmo.
Então assim, o que tá na moda na favela cara eu quero usar sabe, seja o cropped da moda, seja a trança da moda e toda a estética do qual a galera real marginalizou como unha de acrigel bastante decorada, ou postiça né bastante decorada e sobrancelha de Henna, os pelos dourados né. É mais do que da a moda em si do vestir, mas da estética também, estética estética né, real, no real sentido assim da palavra e não do que a galera tá usando atualmente pra falar do visual, do contexto em geral, do conceito visual no todo.
RAPVIBE192: É interessante porque te ouvi falando em um story uma vez o seguinte: “eu uso postiça e outras peças porque quero ser identificada como alguém de favela”, isso me chamou atenção porque nas favelas as pessoas ainda tem medo de se afirmar como alguém daquele lugar, você sente isso também?
Juju Rude : Sim com certeza, eu me pego às vezes assim conversando com amigos aqui, e isso é independente da idade ta, que entende que o favelado quando você se bota como favelado você se bota como menos né, e aí eu pego às vezes falando com pessoas de dentro da favela falando “não, não moro na favela, moro na comunidade” sabe, que faz questão de botar essa entonação assim ‘a comunidade’ de achar que falar favela é ruim, porque aprendeu assim de alguma forma sei lá na televisão ou no lugar onde trabalha, fora né. Eu enfatizo que tipo, o lugar que a gente mora, essa condição que é aqui se chama a favela, o nome do lugar é favela e nós somos uma comunidade.
Então, tipo, nós somos uma comunidade que mora dentro de uma favela, isso aí é inegável, o nome é favela e a gente pensa assim na raiz da história do nome favela… porque assim, esse tipo de informação ela tem que ser mais disseminada e eu acho que com o tempo isso vai acontecer da galera entender tipo, a origem, que é a coisa mais simples do mundo, que é a origem do nome favela, que vem de uma árvore e pô tem a história da Guerra dos Canudos que é uma coisa que a gente estuda na escola, que sabe, que não é distante da gente, que pô os pretos que foram pra essa guerra ficaram num morro que tinha muito dessa árvore que deu esse fruto chamado favela, enfim.
Quando eles voltaram pro Rio de Janeiro com o lance ali do quartel onde é a central do Brasil e ali esperando acontecer algo em que não acontecia eles subiram pro Morro da Providência e tal, e identificaram falando ‘pô aqui parece o morro da favela lá da Bahia e o Morro da Favela, o Morro da Favela, Favela, Morro da Providência, Favela da Providência… e assim foi.
É algo muito próximo da gente, de todo favelado saber disso e entender assim da mesma forma que atualmente né, os pretos tão começando a entender a o lance da palavra, da origem da palavra negro e a militância querer se afirmar falando que pô a gente tem que se identificar como preto ou afrodescendente ao invés de negro né, por conta da história de ‘negro’ [significado da palavra]. A galera meio que faz essa uma ligação mais de forma negativa sabe, quer mudar a favela pra comunidade sendo que a palavra favela não é algo ruim e já ao contrário do que é a palavra negro, que a galera acha politicamente correto que o certo é falar negro, mas não né, os pretos querem ser esse chamados de preto ou afrodescente, pelo menos quem tem um entendimento maior sobre toda a história.
RAPVIBE192: Qual a importância de ta bem trajada pra você? Ainda pensando na questão da reafirmação e do Rap se for o caso.
Juju Rude : Então a importância de se vestir bem ela é algo que transcende né, é além do Rap, da cena do rap em si ou de qualquer cena musical em si, ela primeiro ela fala sobre uma raça, as questões sociais da qual uma raça e uma geração tem que aparentemente está limpo né, e com roupas boas pra poder mostrar que tem uma condição, pra mostrar que tá inserido na sociedade, e aí eu acho que na galera assim dos guetos do mundo todo existe esse movimento da ostentação né, é mais gritante pra gente mais próximo do Funk, mas é algo que a galera do Rap já faz já tem bastante tempo que é mostrar que pode também, mostrar que tem.
Mas as raízes disso é algo que é triste né, e aí a galera levou pra ostentação mas a gente tem que tá ligado na nossa realidade do quanto que isso é importante, de tipo, pô a gente almeja que as pessoas tenham reais condições, que não seja o artifício pra ser bem tratado na rua, mas que além de você poder e querer se vestir bem você, ter coisas boas dentro de casa também sabe,
“em primeiro lugar a gente poder fazer esse movimento, ser inverso né ao invés da gente aparentemente começar ser obrigado a parecer que tá bem, que tem dinheiro ou algo do tipo.”
RAPVIBE192: Conta um pouco mais do seu trabalho recente com a Guetto Run Crew e a Adidas.
Juju Rude: Então com a Guetto Run é o seguinte, eu já conheço a galera tem bastante tempo mas até então a gente nunca tinha parado pra interagir, antigamente eles eram patrocinados pela Nike e eu tava meio distante do rap essa época que eles começaram a fazer realmente ativações e agora eles são patrocinados pela Adidas, e eu tipo com o trabalho anterior que eu tinha apoio da Nike, fiz bastante trabalho pra Nike, apresentei eventos, fiz shows e tal e depois eu comecei a usar Adidas, tanto é que os dois shows do Racionais que eu já abri eu tava usando Adidas e tal. Recentemente né, agora com essa com essa fase que eu tô meio que voltando pra cena e reconquistando tudo de novo e tal muitas coisas mudaram, muita gente mudou então é como se eu tivesse começando do zero novamente.
Aí tipo assim me acompanham, eu acompanho eles já tem um tempo e cara eles me acompanhando viram que hoje em dia assim eu dialogo mais com a Adidas, que eu curto Adidas e aí eles viram essa oportunidade de juntar uma coisa outra né, e teve esse projeto da adidas que eles convidaram alguns coletivos pra poder fazer umas customizações daquele modelo Fórum e aí eles fizeram o modelo com o basquete cruzado que também eu conheço há muitos anos, eu também sempre fui de interagir bastante com projetos sociais e tal.
Eles resolveram me chamar pra poder fazer as fotos de divulgação do tênis, então é algo que tem super a ver com o meu conceito, eu que sou cria de Ongs sou também cria do Afro Reggae e tal, a galera ligar a minha imagem mesmo com toda minha marginalidade, todo o trabalho bem proibidão que eu faço assim, a galera entende que existe um contexto social também no meu trabalho e eles quiseram me chamar também como uma personalidade, não foi questão de ser uma modelo ali, mas como eles mesmos falaram de ser uma personalidade que tá ali vestindo a camisa do projeto.
Ontem fui, fiz a minha primeira corrida com eles e achei genial, achei sensacional porque acho que falta muito isso também tá ligado no meio artístico a galera ter essa influência sobre o estado físico das pessoas assim, da galera se cuidar e falar que ele realmente precisa fazer um exercício físico sabe. Então pô uma parada que eu vou abraçar a mais né, essa questão assim de falar sobre galera cuidar do corpo, cuidar da mente e pô eles tem um super conceito de fazer a corrida em vários lugares, lugares diversos, na rua, na favela e cara acho que em breve vai rolar uma aqui na minha comunidade, eles têm interesse de fazer uma corrida aqui na minha favela e já fizeram na Vila Vintém, já fizeram em outras também.
É muito diferente né cara, é um conceito assim real diferente e oportunidade de tá interagindo com outros artistas e outras pessoas que trabalham em outras áreas da arte também né, a Guetto Run assim tem um conceito muito foda e que eu gostei de me associar a eles, associar meu nome a eles, muito bom.
RAPVIBE192: Grife, conforto ou os dois?
Juju Rude: Há o meio termo, mas eu gosto de usar marcas que dialogam com o meu conceito, que são acessíveis, que real agrega sabe algum valor a minha imagem, tudo tem um por que, e o conforto né, a mulher favelada ela se sente confortável né, porque ela é livre com o próprio corpo então a gente usa roupa curta, usa short curto, topzinho entendeu, e a gente tá acostumada com isso. Mas ao mesmo tempo eu também às vezes sinto necessidade de tá aquele pique poderzão, de tá com um saltão, salto alto né, então depende do ambiente, eu as vezes vou no estúdio com uma Kenner ou numa reunião, mas aí do nada eu quero ir num estúdio com salto alto também sabe, eu sou muito dessa assim.
Entre o Rap, a moda e a atuação
RAPVIBE192: Quais os próximos trabalhos madrinha?
Juju Rude: Recentemente saiu a minha participação na websérie ‘Dois Lados’ né, que é um movimento muito importante que tá acontecendo no na cena do audiovisual que é uma galera de favela criando uma série né, e colocando pessoas reais da favela e artistas também pra tarem atuando pela primeira vez e eu tive essa oportunidade, sempre quis atuar e pô tô focadona assim, tô interessada nessa parte aí de atuação, tô fazendo faculdade de ciências sociais né, e tem clipes e músicas aí, bastante coisa pra lançar. Vou gravar um clipe agora que é uma de cypher de funk na verdade do DJ Xaropinho com artistas novos e também vai ser um trabalho bem interessante fazer. Por enquanto é isso que eu posso falar.
Confira a participação da Juju Rude na websérie “Dois Lados”:
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Confira o Spotify da madrinha: