A marca de luxo faz questão de demonstrar que não quer se vincular com o público periférico; mesmo com o apelo popular e publicidade grátis de rappers e MC’s.
A Lacoste, marca de luxo francesa, está expandindo sua atuação no Brasil. Recentemente até criou um novo perfil no Instagram exclusivo para o português daqui. Sendo assim, logo nas primeiras publicações já haviam alguns comentários clamando pela presença de rappers como Kyan, Kayblack e MD Chefe nas próximas campanhas.
Ignorando completamente esse apelo, a Lacoste estreou nova campanha publicitária. Ao mesmo tempo convidou os artistas Jão e João Guilherme, a modelo Pretta Mesmo e a empresária Helena Bordon para a ação. Dando enfâse à frase “Colocando o clássico e o atual lado a lado pelo mundo, agora com um toque brasileiro“.
Essa decepção é claro que gerou uma onda de críticas, principalmente por artistas ligados ao rap e ao funk, sendo esses os que mais exaltam a marca em letras de músicas. O nome da marca chegou a ficar boa parte dessa terça-feira (3) entre os assuntos mais comentados do Twitter no Brasil.
O tweet de Felipe Mascari, do Rap TV, foi um dos que mais repercutiram nesse debate gerado nas redes sociais. “Fica cada vez mais evidente que essas marcas, ao invés de se juntar com o funk e o rap, querem se desassociar da periferia” disse Mascari.
A Lacoste colocou um influenciador rico e branco para sua nova campanha. Assim como a Oakley, fica cada vez mais evidente que essas marcas, ao invés de se juntar com o funk e o rap, querem se desassociar da periferia. E só agradecem por receberem propaganda gratuita.
— Felipe Mascari (@felipemascari) August 3, 2021
Porém essa questão já vem sendo debatida há algum tempo. E um dos exemplos é um outro tweet, agora de Lucas Zetre, comentando essa situação lá em meados de março.
https://twitter.com/lucaszetre/status/1376995529029263364
Outro internauta também foi bem pontual em sua colocação e praticamente elucidou esse “fenômeno”.
Já falei isso, mas o povo não aprende e quer cobrar representatividade: a Lacoste não tá nem aí pra funkeiro, pra quebrada. O público deles não é esse. O dinheiro que o pessoal da quebrada move achando que é relevante pra marca é irrisório perto do que o público alvo move (+)
— Jamal Bee (@kingwes__) August 3, 2021
Marcas de grife não gostam de clientes mais pobres
Por outro lado, em entrevista para o UOL Economia, o diretor do Data Popular, Renato Meirelles, deixou bem claro que marcas de grife não gostam de clientes mais pobres e diversas já buscaram orientações de como desvencilhar a imagem de artistas periféricos.
“Boa parte das marcas tem vergonha de seus clientes mais pobres. São marcas que historicamente foram posicionadas para a elite e o consumidor que compra exclusividade pode não estar muito feliz com essa democratização do consumo“; diz Renato, sem citar quais marcas.
Diversas marcas de grife no funk e hip hop são citadas. Nomes como Nike, Adidas, Red Bull, Lacost, Red Label e Chandon são citadas nas letras de rappers e funkeiros, ganhando publicidade gratuita.
Então cabe a reflexão dos artistas e do público se vale mesmo a pena continuar exaltando marcas que fazem questão de ignorar nosso nicho, e desdenham do poder de compra da periferia, projetando produtos e divulgando apenas para a “elite”.
Mesmo assim, rappers como MD Chefe, Kyan e Kayblack seguem fazendo hits elevando o status da marca e garantindo milhões de visualizações em seus trabalhos. Como por exemplo na mais recente “Rei Lacoste” de MD Chefe e DomLaike que já soma 3 milhões de views no Youtube em menos de duas semanas. Ou até mesmo “Versão Chave Djokovic” feat entre Kyan e Kayblack que soma quase 5 milhões de visualizações em 5 meses.
Confira alguns clipes de músicas que exaltam a Lacoste: