MC Cabelinho é intimado a depor e comenta acusação em entrevista ao G1.

Na última quinta-feira (29) os funkeiros MC Cabelinho e MC Maneirinho foram intimados a depor acusados de apologia ao crime.

Uma grave acusação de um deputado do PSL agitou as redes sociais na última semana, o fato causou reação até mesmo de alguns rappers importantes do cenário nacional, como Djonga e Filipe Ret. Na última quinta-feira (29) os funkeiros cariocas MC Cabelinho e MC Maneirinho foram intimados para depor em uma delegacia do Rio de Janeiro sobre a acusação de apologia ao crime. MC Cabelinho é figura publica conhecida nacionalmente e já estrelou inclusive uma novela da Rede Globo, o funkeiro falou com o portal de notícias da Central Globo de Jornalismo sobre o ocorrido e disse o seguinte: “Se moro em comunidade, não vou falar da patricinha que anda com o cachorro na orla de Copacabana“. O caso está sob investigação da polícia.

A assessoria de imprensa de MC Cabelinho informou em nota oficial que o motivo do artista visitar a Cidade da Polícia, no Rio de Janeiro, para responder ao processo de verificação de inquérito, foi instaurado em decorrência da sua música “Migué”, cuja letra compôs em parceria com o cantor MC Maneirinho, lançada em março de 2020. A acusação é feita por um deputado do PSL, e visa investigar os dois artistas por suposta “apologia ao consumo de drogas” e “quiçá em associação para o tráfico”. A equipe jurídica do funkeiro já entrou com a defesa e acreditam num desfecho positivo.

Vocês querem que eu cante sobre o que? Em muitas das minhas letras falo mesmo o que eu vi e do rolê violento da vida de todo morador de comunidade. E podem ter certeza que, até onde puder, eu vou continuar fazendo a minha música assim. Prenderam Renan da Penha e querem me prender. Vão querer prender todo o favelado que consegue espaço e reconhecimento na sociedade diz MC Cabelinho.
Rap Forte MC Cabelinho é intimado a depor e comenta acusação em entrevista ao G1.
MC Cabelinho, cantor de funk e ator que interpreta o personagem Farula, de ‘Amor de mãe’ — Foto: Divulgação
Em entrevista ao  G1, MC Cabelinho afirma que suas letras apenas descrevem a realidade da favela. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

G1 – Quando você recebeu essa intimação e qual foi sua reação?

Cabelinho – Tem uma semana. Eu fiquei chateado, mas não fiquei surpreso. Os caras criminalizam o funk há um tempão. Então é uma parada com a qual a gente se acostumou, mas mesmo assim fico chateado

G1 – O depoimento estava marcado para hoje? Como foi?

Cabelinho – Meus advogados não quiseram que eu desse o depoimento, acharam melhor não fazer. Eles não conseguiram ver o inquérito todo, só metade. Assim que eles tiverem acesso ao inquérito todo, vamos ver o que fazer.

G1 – Mas você postou uma foto na frente da delegacia. Você chegou a falar com a polícia?

Cabelinho – Não. Eu fui lá me encontrar com os advogados, mas não falei.

G1 – Você disse no Instagram que a denúncia foi feita por um político. Quem é?

Cabelinho – Eu prefiro não falar, porque esses caras querem mídia, querem causar intriguinha, fofoca, reboliço. Acho que ele não merece que eu fale.

G1 – A denúncia é sobre apologia ao crime. Você faz isso nas suas músicas?

Cabelinho – Eu não considero o que eu falo apologia. E acho que ninguém deveria considerar. O MC não falo nada além da realidade, do que acontece.

Eu sou nascido e criado onde via da janela boca de fumo, tráfico, correria. Não tem como mudar o contexto. Não tem como falar de coisa bonita, se moro em comunidade, não vou falar da patricinha que anda com o cachorrinho na orla de Copacabana.

G1 – O Maneirinho foi intimado pela mesma denúncia? Há outro MC?

Cabelinho – Eu encontrei com ele lá na delegacia. Acho que o nosso depoimento seria até no mesmo horário. Até agora, que eu saiba, somos só nós.

G1 – E você sabe porque são vocês dois, e não outros?

Cabelinho – Eu queria saber te responder isso.

G1 – Queria saber sobre o impacto de ter sido intimado. Primeiro para você, pessoalmente.

Cabelinho – Não queria que acontecesse, queria que entendessem nossa realidade antes de falarem besteira. O difícil é que tem mais pessoas na sociedade que pensam como eles. Às vezes me pergunto quanto isso vai acabar, quando vão parar de olhar para a gente dessa forma, ver todo favelado como criminoso. Eu não tenho culpa de ter traficante na favela.

G1 – E o impacto profissional disso, na sua carreira e de outros músicos de funk?

Cabelinho – A maioria das pessoas não entende porque a gente fala da nossa realidade. E acho que quando isso acontece com mais um MC, mais um DJ, eles podem ganhar mais confiança nessa forma de pensar, que está errada. Mas como eu falei, eu não vou me calar, enquanto puder me defender desses caras, vou me defender, vamos fazer o possível para reverter. MC e DJ não são bandidos.