por rapvibe192,
O RAP REDESCOBRINDO NOVOS LUGARES:
É inegável que a era de ouro do rap foi nos anos 90, uma explosão de artistas surgiam de todo lugar, clássicos e mais clássicos sendo feitos a cada esquina, crianças querendo ser DJ ou MC e muito mais, com isso o rap alcançou lugares pra além da favela. Olhando pro cenário atual do Rap Nacional, pra grandes artistas como BK, Baco, Orochi, Sidoka e outros, será que estamos saindo da favela e vivendo uma ‘era de ouro’ novamente?!
O fervo dos anos 90
Na música é muito comum ouvir falar de ‘era de ouro’, que se refere a épocas em que certos gêneros musicais ou movimentos ganham destaque nacional e são vistos em todo lugar, muitos fãs e artistas identificam que a ‘era de ouro do rap’ se encontra no final dos anos 80 e em toda década de 90, artistas como 2Pac, N.W.A., Rakim, The Notorius BIG, Snoop Dogg, Nas, Busta Rhymes e muitos outros, eram febres mundiais, não só estavam por trás de tudo que fazia sucesso como inspiravam outras milhares de pessoas em quase todo lar norte-americano.
No Brasil não foi muito diferente, as batalhas e gravadoras começaram a surgir, artistas começavam a ganhar as capas da revista e as telas de TV (nem sempre de uma forma positiva), Racionais MC’s, MV Bill, Facção Central, RZO, GOG, Marcelo D2, Dina Di, Edi Rock, Rappin’ Hood e outros iam capinando o que conhecemos como Rap nacional, como disse o Mano Brown para o Le Monde Diplomatique:
Eu vi a raiz do barato eu vi o rap chegar, eu vi Thaide, Bill, Câmbio Negro, eu vi facção, eu vi todo mundo… RZO nascer, eu ia na São Bento e via os cara tudo moleque.
Nesse período, muitos artistas que moravam em lugares de extrema pobreza conseguiram ter no mínimo uma melhoria financeira aqui no Brasil, já nos EUA muitos desses artistas que faziam rap em suas áreas mais pobres se tornaram milionários, o rap tinha saído finalmente da favela e alcançado o mundo.
As Batalhas de Rima restauraram o Rap Nacional
Com o passar do tempo esse destaque dos anos 90 foi diminuindo, outros gêneros como o Pop foram tomando as posições do topo e aquele fervor que se encontrava em diversas favelas do Brasil em relação ao rap foi passado para o Funk, até que em meados de 2013 as batalhas de rima foram ganhando forma e alcance, muito por conta dos vídeos que surgiam todo dia no YouTube.
Em 2015 as batalhas de rima sempre apareciam entre os vídeos em alta do YouTube, Orochi, Samurai, Jhony MC, Xamã e outros rappers surgiam a todo momento e ganhavam um alcance gigante, era o rap sendo ouvido novamente em outros lugares alem da favela. Desde então a quantidade de batalhas foi aumentando, no RJ por exemplo, a cada bairro surgia uma nova batalha, rimas começaram a acontecer em todo espaço pra além da favela e da rua, entrou nas escolas, em bares, em eventos de tudo quanto é tipo, lançou milhares de artistas, incentivou o surgimento de mídias e fez de artistas que só gostavam de batalhar em grandes nomes da música.
A 2º era de ouro, saindo da favela (20-30)
Assim como na década de 90, o Rap Nacional hoje se encontra em fervor, são muitos artistas surgindo a todo o momento e os que já faziam rima estão melhores ainda, muitos deles tendo conquistas incríveis como as do premio multishow 2019, Black Alien levou o Disco do ano com ‘Abaixo do Zero: Hello Hell’, Baco levou a Direção do ano com o clipe de ‘Bluesman’ que também ganhou um premio em Cannes e a atenção de Beyoncé, mais recentemente Sidoka recebendo a ligação direta de Gucci Mane, Wiz Khalifa entrando em contato com Orochi, certificados de platina chegando em diversas favelas, novo álbum do BK com master do Mike Bozzi, Recayd Mob e Pineaple alcançando números absurdos, e o principal, milhares de jovens vendo no rap uma perspectiva de vida.
Com tudo isso sobre a mesa é possível afirmar que o Rap Nacional vive um momento único, estamos saindo da favela e alcançando novos espaços, nesse exato momento em que escrevo a matéria está passando um comercial com MC estudante na televisão, certamente era inimaginável a alguns anos atrás que todas essas coisas boas fossem acontecer tão rápido e de novo, o rap pode estar prestes a viver uma segunda era de ouro. Mano Brown inclusive já falou sobre essas renovações que o rap tem em entrevista para a Trip:
De tempos em tempos fica muito difícil o rap, quase que morre, fica agonizando por aparelho. O rap é assim que nem o santos, tem época que agoniza quase morre, quando volta pa… agora os cara ta playboy, daqui a pouco ta todo mundo fodido de novo.
O outro lado da moeda
Esse alcance que o rap ganha em outros espaços é muito bom, a favela ganha voz, uma indústria começa a surgir em volta disso, crianças ganham inspirações, ouvintes ganham clássicos, artistas ganham prêmios e assim todos os envolvidos tem a melhoria que planejam, é a esperança que fundou o movimento Hip Hop de levar melhoria pra favela se tornando realidade, embora exista um outro lado da moeda.
Sair da favela e alcançar novos lugares é bom demais, o problema acontece quando novos lugares tentam alcançar a favela e acabam depreciando toda uma cultura. O movimento Hip Hop vem do gueto, feito da favela para a favela, mas a partir do momento que o rap sai da favela ele fica exposto a pessoas que sequer se importam com essa cultura, começam a surgir artistas racistas, gente querendo lucrar com a imagem do gueto, empresas explorando artistas, artistas lutando contra o próprio rap e por ai vai…
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Essa é uma época muito importante pra esse gênero musical, o Rap Nacional é extremamente rico em diversidade e pode ser muito mais, tem muita gente planejando muita coisa boa, um vizinho seu hoje pode ser o ‘artista do ano’ amanhã, aquela garota que fica fazendo beat as 4 da madrugada pode ser a dona da maior gravadora do país em alguns anos, aquele rapper que você tanto gosta pode estar indo atuar um Hollywood, aquela batalha de rap pode se tornar um evento gigante e por ai vai…
O Rap tá saindo da favela novamente, e vai conquistar tudo o que ver pela frente.