Rapper cita Bolsonaro e opressão policial em música e tem o vídeo censurado.

FabuloZu postou o clipe de “Favela in Fúria” no canal do Trilha Sonora do Guetto no Youtube e um dia depois o clipe foi removido.

Um rapper paulista conhecido como FabuloZu teve seu video clipe censurado em praticamente todas as redes sociais, o motivo teria sido a suposta apologia ao crime. Poucas horas após a postagem de “Favela in Fúria” no canal do grupo Trilha Sonora do Gueto, o vídeo já havia alcançado 17 mil visualizações apenas no Youtube, isso só no dia 10/07, no dia 11/07 o vídeo foi removido.

O rapper abordava temais pertinentes para o movimento hip-hop, talvez com uma linguagem informal, mas de fato “toca na ferida” de muitos que estão no erro. Os temas eram: violência policial seletiva, opressão, assassinato em massa, o genocídio que acontece diariamente nas periferias do Brasil e um refrão que xingava Jair Bolsonaro.

A partir dai o perfil oficial de FabuloZu no Instagram foi bombardeado com comentários marcando diversos perfis de policiais pedindo para denunciarem o vídeo, “Favela in Fúria” crítica veementemente as atrocidades cometidas pela polícia. São exemplo as mortes de muitas crianças inocentes, como a menina Aghata, do menino João Pedro, do humorista Bunitinho. O som também a criticava a atual gestão do presidente da república Jair Bolsonaro.

Isso tudo levantou uma onda de indignação por parte de policiais e simpatizantes da instituição, na sua grande maioria de direita. Vale lembrar que o rap, assim como qualquer outra obra audiovisual não passa de pura expressão artística retratando a realidade das periferias. Portanto este direito está assegurado na constituição brasileira, como liberdade de expressão, na Lei n° 5.250 de 9 de fevereiro de 1967 que regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação.

“Art . 1º É livre a manifestação do pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer.”

Se você não concorda com os colocações o rapper, basta observar o que acontece ao seu redor, se atenha aos fatos que vem sendo noticiado dia após dia no Brasil.

Um fato no mínimo controverso é que um dia após essa exclusão, tamanha a indignação por parte da polícia com as denúncias, o programa ‘Fantástico‘, da TV Globo, exibiu o vídeo de um policial de São Paulo pisando no pescoço de uma comerciante negra de 51 anos para imobilizá-la, um “fato isolado” onde os PMs envolvidos foram afastados.

Violência policial de fato tem como alvo os pretos e favelados:

Como FabuloZu fala em sua música “Os pretos estão sempre na mira” e o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, comprova isso. O documento revela que 75% das pessoas mortas pela polícia no Brasil são negras. Nos EUA, a morte de George Floyd, um segurança negro, por um policial gerou protestos do movimento #VidasNegrasImportam em diversos países, inclusive no Brasil.

O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial mostrou que a chance de um jovem negro ser vítima de homicídio no Brasil é, em média, 2,5 vezes superior à de um jovem branco.

Referente à seletividade racial, o padrão de distribuição letal da polícia aponta para a expressiva representação de negros entre vítimas. Cerca de 55% da população brasileira, os negros são 75,4% dos mortos pela polícia.

Parece que não adiantou nada os movimentos pelo mundo sobre o valor das vidas negras. Até quando a violência policial contra a população negra será aceita e normalizada?

Naturalização da morte:

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o cientista político Vitor Marchetti lembra que, além da PM autoritária, o país passa por um cenário em que a violência parece naturalizada. O tema #VidasNegrasImportam, que era pauta dos atos recentes na Avenida Paulista, era gritado em nome das várias crianças negras e moradoras de favelas e periferias assassinadas em operações policiais do Estado.

Ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, onde protestos por justiça para George Floyd ganharam apoio inclusive de outros policiais, não há no Brasil o mínimo reconhecimento do emprego excessivo e desproporcional da força e violência por parte da corporação. “As forças policiais apenas reproduzem as lógicas do racismo estrutural, reforçando essas barreiras do apartheid social”, lamenta o cientista político. Confira a matéria do site Rede Brasil Atual.

Repressão policial em São Paulo deixa claro que PM tem lado. E não é o dos democratas

Alguns anos atrás logo após a posse, como comandante da Rota, a tropa de elite da PM (Polícia Militar) de São Paulo o tenente-coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, 46, defendia que “Abordagem nos Jardins tem de ser diferente da periferia.” e seria “Uma questão de se adaptar aos inimigos diários e ao território pertencente.” Mostrando a forma de pensar a corporação que foi criada sob o lema “servir e proteger.” Acesse a matéria no site da UOL clicando aqui.